sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Equipa de futebol do Sporting Clube de Moçâmedes: 1935/36 e nas décadas seguintes. Fernando Peyroteo.



Esta foto tirada no primitivo campo de futebol de Moçâmedes, na década de 1930,  é a  mais antiga que consegui de atletas do Sporting Clube de Moçâmedes. Convido-vos a  colocarem aqui os nomes daqueles que eventualmente reconheçam, pois apenas consigo identificar Armando Guedes da Silva (4º) e Artur Trindade (5º) 







Sporting Clube de Moçâmedes

Foi no ano de 1922, a 1 de Julho, que surgiu um 4º Clube Desportivo no distrito de Moçâmedes, o «Sporting Club Leitão»,  formado por um grupo de funcionários da casa Rogado Leitão, de cuja Direcção constavam os seguintes nomes: Francisco Lopes Braz (Presidente), Arménio Rocha Mangericão (Secretário), José Carlos de Freitas Jr. (Tesoureiro), Pedro Parente da Silva, Henrique Sena Jr e José Augusto Quadros (Vogais), sendo o Conselho fiscal preenchido por António Parente Albuquerque e António Leitão Oliveira. Em 2 de Agosto de 1922 o «Sporting Club Leitão» passou a denominar-se Sporting Clube de Portugal, e no ano seguinte, em Assembleia Geral de 22 de Maio de 1923, passou definitivamente a Sporting Club de Moçâmedes,  tornando-se a 9ªa filial daquele clube metropolitano e adoptando como símbolo a águia e as cores branco e verde às riscas.

Seria injusto não deixar aqui expressos os nomes de tantos outros jogadores sportinguistas que ainda que não façam parte desta foto, ao longo de tantos anos deram o seu esforço em prol do Sporting Clube de Moçâmedes, tais como: Júlio S, Peyroteo (estrela), Emelino Abano, Joaquim Guedes da Silva, Telmo Vaz Pereira (estrela), António Pedro Bauleth, Angelo Nunes de Almeida, Eduardo Sampaio, Pedro Paulo, Rogério Pompeu da Silva, Fernando Vilares, Mário Frota Tendinha, Carlos Maria Inácio (estrela), Alfredo Sales Esteves, Hugo Bento Maia, José Pedro Bauleth (estrela), Adriano Nascimento Jr. (estrela), Carlos Lopes Alves de Oliveira, (estrela), José Costa, Pedro Costa, Manuel Maria Inácio, Pinto, Renato de Sousa, Justo Monteiro, Honorato Monteiro, Francisco de Freitas, Eugénio Alípio, Manuel Veli de Sousa (estrela), José Esteves Isidoro (estrela) etc, etc..

O Sporting foi o único clube da cidade de Moçâmedes que conquistou quatro campeonatos distritais consecutivos, sendo muitos dos seus atletas dessa época convidados para integrar a selecção. De entre os jogadores do Sporting que mais realce tiveram contavam-se: Júlio Seixas Peyroteu, Telmo Vaz Pereira, Carlos Lopes Alves de Oliveira, Manuel Veli de Sousa.  Entre os nomes que figuraram nas suas direcções, destacaram-se: José Carlos de Freitas, Comandante Fragoso de Matos, Arnaldo Sanches Osório e por último, João Thomáz Sena da Fonseca.












Por ocasião da comemoração do 3º aniversário do Sporting Clube de Moçâmedes , em 1.7.1925, foi publicado um número especial pelo Jornal da cidade. Repare-se o tipo de discurso  literário exaltador das virtudes pátrias, erguida em bastião derradeiro da nação em crise. Os anos de 1919-1920 tinham sido terríveis. A nova conjuntura internacional do pós-guerra  favorecera o surgimento de soluções autoritárias que marcaram decisivamente o destino de Portugal. Facções político–militares com os seus chefes próprios, ligados aos apoios político-partidários defrontavam-se entre si. As elites liberais republicanas acabaram por render-se política e intelectualmente ao nacionalismo autoritário. Os efeitos faziam-se sentir nas colónias de África  e a este nível incluso. Estava-se a menos de um ano do golpe militar de 28 de Maio de 1826, que deu lugar ao Estado Novo e à subida ao poder de Salazar. 

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 1922/1925     HOMENAGEM



 

  Equipa do Sporting Clube de Moçâmedes, em 1935

 


Esta é segunda foto mais antiga que consegui obter do Sporting Clube de Moçâmedes (1935/36). Da esq. para a dt. Em cima: Julio Seixas Peyroteu, Viriato Martins e Castro, Pedro Paulo Fernandes, Júlio de Andrade, Armindo Alves de Oliveira, Eduardo Sampaio Embaixo: Hugo Vaz Pereira, ?, Francisco de Freitas, Manuel Veli de Sousa e Maurício de Andrade.







Os dois irmãos Fernando Peyroteu, o 3º a partir da esq. para a dt., e  Júlio Peyroteu o penúltimo à dt. 



De Fernando Seixas Peyroteu não possuo qualquer foto que possa exibir,  excepto esta, embora não haja qualquer dúvida de foi em Moçâmedes que este extraordinário futebolista, que se tornou um ídolo nacional,fez a sua iniciação.   Fernando Seixas Peyroteu, nasceu a 10 de Março de 1918, na Humpata, Angola, e começou a sua carreira futebolística em Moçâmedes,  no Atlético, aos 14 anos,  em 1932, numa altura em que sua mãe ali se encontrava a leccionar na cidade do Namibe, de onde transitou para o desportivo da Huila. Tinha apenas 15 anos quando foi convidado para integrar a selecção de Moçâmedes que enfrentou a selecção rival de Sá da Bandeira (Lubango). Jogou algum tempo no Sporting Clube de Luanda e deste foi transferido, em 1937, para o Sporting Clube de Portugal, tendo a sua estreia sido realizada aos 19 anos de idade contra o Benfica de Portugal, marcando 2 golos.





  
Alinhando pelo Sporting Clube de Portugal  
em foto retirada da Net

Mais tarde  Fernando Peyroteu passou a alinhar pelo Sporting Clube de Portugal, porém  não assinou de imediato contrato, dando apenas a sua palavra de honra em como viria a jogar no clube, e sem sequer discutir o ordenado a ganhar. Chegado a Lisboa, em 1937, não tardou que fosse abordado, no Rossio, por um emissário do Futebol Clube do Porto que ofereceu  mais dinheiro, mas não aceitou o convite, porque acima de tudo estava a sua palavra que dinheiro algum compraria. Escusado será dizer que, para evitar que o pudessem perder para outro clube, logo os dirigentes do Sporting lhe fizeram um contrato por duas épocas, e como prémio de assinatura oferecido 500$00 e um ordenado mensal de 700$00, que seria reduzido a metade se arranjasse emprego.

Ocupou a posição de avançado, e logo primeiro jogo de carácter particular, em 12 de Setembro de 1937, contra o Benfica (5-3), marcou dois golos. Em 1945, foi expulso no jogo Benfica-Sporting, pela primeira e única vez, porque o jogador do Benfica insultou-o em murmúrio e Peyroteo respondeu-lhe a soco, para limpar a honra beliscada da mãe que não era para ali chamada. Ao nível da selecção nacional foi internacional 20 vezes, e exerceu o cargo de seleccionador em 1961/62. Em toda a sua carreira desportiva representou o Atlético de Moçâmedes, o Desportivo de Huila, o Sporting de Luanda e o Sporting Clube de Portugal.

Conquistou o seu primeiro campeonato Nacional logo no ano em que entrou na época 1937/1938 , durante a sua carreira conseguiu 5 campeonatos Nacionais incluindo um “tricampeonato”:1940/41, 1943/44, 1946/47, 1947/48 e 1948/49 e ainda quarto Taças de Portugal: 1940/41, 1944/45, 1945/46 e 1947/48. Pelos Sporting Clube de Portugal, fez um total de 183 jogos com 297 golos, e no Total da sua carreira fez 416 jogos com 689 golos, sem dúvida um marcador nato. Um dos seus momentos foi em 1942 quando marcou nove golos ao Leça, um autêntico recorde nas competições nacionais. E  em 1948 num jogo em que o Sporting necessitava de vencer por três golos de diferença o Benfica para se sagrar campeão, Peyroteo, que passara a noite anterior de cama em estado febril, marcou quatro golos e o campeonato ficou em Alvalade. A nível pessoal recebeu seis vezes o prémio de melhor marcador do Campeonato Nacional: 1937/38 - 34 golos; 1939/40 - 29 golos; 1940/41 - 29 golos; 1945/46 - 39 golos; 1946/47 - 43 golos e 1948/49 - 40 golos. Terminou a carreira de futebolista em 1949. No último jogo que efectuou,  a 5 de Outubro, em homenagem a si próprio, disse «fui soldado nas fileiras do desporto nacional e um soldado não foge ao cumprimento do seu dever, seja qual for e em que circunstâncias for! Mas, de hoje em diante, reconheço que sou um soldado velho. Não posso corresponder às exigências de preparação de um jogador de futebol que queira manter-se em forma e ser útil ao seu clube e à modalidade que pratica. Quando entro em campo, vou cheio de vontade de jogar mas, depois de meia dúzia de pontapés na bola, apodera-se de mim um enfastiamento inexplicável.» . E assim terminou a sua carreira, deixando uma enorme saudade a todos os que o apreciavam como futebolista e ser humano. No dia 28 de Novembro de 1978, durante um jogo de veteranos em Barcelona, sofreu uma lesão que acabou por ser fatal, porquanto numa operação ao tendão de Aquiles, foi vitimado por um ataque cardíaco e acabou por falecer, depois de já lhe ter sido amputada uma perna. 


Ainda o Sporting Clube de Moçâmedes







 











 Na década de 1950
 Já mais perto da independência de Angola, assiste-se a uma rápida africanização dos atletas, sinal seguro de que a vontade dos governantes mudara e que as coisas estavam aceleradamente a mudar.



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