quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Circuito de Moçâmedes, 23 de Março 1974

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Circuito de Moçâmedes, 23 de Março
O circuito de Moçâmedes foi a primeira prova do calendário Angolano de 1974, e disputou-se como era hábito, por alturas das Festas do Mar. Mais uma vez, esta corrida contou com a presença de pilotos da Metrópole, cabendo desta vez a Carlos Santos e Mané Nogueira Pinto a honra da representação continental. Por outro lado, era o meio destes pilotos contornarem a interdição da realização de corridas em Portugal -motivada pela crise do petróleo- e poderem fazer o gosto ao dedo. O primeiro conduziu o Porsche Aurora Spyder (habitualmente usado no CNV de 73 por Robert Giannone), mas na realidade propriedade do próprio Santos e do Mestre Eduardo da Garagem Aurora. Foi um regresso do chassis #906 128 a terras de Angola, após o acidente do malogrado "Janita" Andrade Villar no circuito da Palanca Negra de 1969. Quanto a Mané Nogueira Pinto (tanto quanto julgamos saber) fez aqui a prova de estreia ao volante do GRD S-73 que tinha adquirido a Carlos Santos no ano anterior (os dois carros Continentais eram assistidos pela Garagem Aurora). Alguns dos pilotos locais estavam muito bem equipados, como era o caso de Mabílio de Albuquerque e o Lola T-292 BMW que viria a realizar o melhor tempo da grelha de partida para a corrida principal. O Porsche Carrera 6 e o Lotus 62 que Américo Nunes e Ernesto Neves aqui tinham trazido no ano anterior alinhavam de novo pelas mãos de Herculano Areias e Teixeira da Silva. Santos Peras apresentava o conhecido Alfa Romeo 33, habilmente recuperado por si próprio e agora pintado de verde. Por fim, a mais inesperada participação seria a do piloto alemão Werner Bernhard Heiderich, (mais conhecido por Ben Heiderich), o importador da Porsche para Espanha e que anteriormente tinha vendido o Porsche 906 a Carlos Santos e o Porsche 907 a Rui Guedes. Tanto quanto pudemos apurar, o carro utilizado terá sido o seu Porsche 908/2 (provavelmente o chassis #012), usado pela Escuderia Repsol em 1971 e possivelmente guardado desde então.

http://sportscarclassic.com.sapo.pt/Mocamedes74_coleccaoBetoXavier.jpgA partida da prova dos grupos 2 a 5: na primeira linha o GRD S73 de Mané Nogueira Pinto e o Lola T292 de Mabílio de Albuquerque. Logo atrás, o Alfa Romeo 33 de Santos Peras, o Porsche 908/2 de Ben Heiderich e o Ford GT40 de Emílio Marta. (colecção Beto Xavier, via Fernando Pereira)

No Domingo, a corrida principal dos Grupos 2 a 5 foi marcada pelo acidente entre o Ford GT40 de Emílio Marta e o Lotus 62 de Teixeira da Silva. O Lotus bateu de frente num dos inúmeros candeeiros que ladeavam o circuito, tendo ficado com a frente destruída e o Ford bateu também no mesmo poste, levando os dois a desistir. A corrida foi vencida pelo Lola T-292 de Albuquerque, tendo ficado no segundo posto o GRD S-73 de Mané Nogueira Pinto, naquela que possivelmente terá sido a última prova da carreira do piloto nortenho. No final, o "Team Irmãos Unidos" (Marta e Areias) protestou os dois protótipos que dominaram os acontecimentos. Verificados os carros, a comissão técnica concluiu que os carros não passavam sobre o gabarito de 10 cm de altura (aliás, nenhum protótipo moderno passaria...), e o delegado do ATCA optou pela desclassificação de ambos. O Director da Prova, incomodado com o final que se desenhava, alegou ilegalidade de procedimentos por falta da assinatura dos 3 delegados desportivos, decide não acatar a desclassificação e distribuiu os prémios aos vencedores na pista. Nos dias seguintes debatia-se na imprensa e nas tertúlias locais o estado do desporto automóvel em Angola, algo desacreditado por uma questão que muitos entendiam ser de pura má fé e outros como uma forma de laxismo em relação aos regulamentos. No entanto, o caso morreria poucos dias depois, com a notícia da revolução de Abril, ocorrida em Lisboa.

Com a crise do petróleo e com o 25 de Abril morreria também a ideia de em 1974 se disputar a primeira edição de um grande Campeonato de Velocidade denominado "Troféu Internacional Português" com corridas disputadas em Vila Real, Estoril, Luanda , Nova Lisboa e Benguela. Era o início de uma nova era, não necessariamente melhor do que a anterior...

http://sportscarclassic.com.sapo.pt/908_PortoLX74.jpgMaio de 1974: o Porsche 908/2 de Ben Heiderich abandonado no porto de Lisboa. (foto: o Volante, colecção Fernando Pereira)

Dois meses após a realização desta corrida, surgia uma notícia no jornal "O Volante" referindo que se encontrava um Porsche 908/2 abandonado no porto de Lisboa, em aparente mau estado de conservação. A foto anexa ao artigo não deixa dúvidas que seria o carro com que Ben Heiderich correu em Moçâmedes. Assim sendo, o mau estado de conservação explica-se em boa parte por ser um carro que em traços gerais, ainda ostentava a decoração de 1971. O uso e a passagem do tempo, em conjunto com a viagem a África e com o abandono em Lisboa, não devem ter ajudado nada para melhorar o aspecto do carro. O que terá sucedido entretanto ao Porsche é um mistério que
In Sportainda não conseguimos desvendar.

In www.Sportscarclassic.com.sapo.pt

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