quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Inauguração do Estádio Municipal de Moçâmedes, em 26 de Novembro de 1972





Inauguração do Estádio Municipal de Moçâmedes (actual Namibe) «Telmo Vaz Pereira» : 26.11.1972


Nota: Após ter sido publicada esta postagem, recebi um contacto de alguém que me informou, que, não obstante  de início,  o nome escolhido ter sido "Estádio Municipal Telmo Vaz Pereira", tal não se concretizou.  Manteremos contudo o nome, enquanto aguardamos uma clarificação do assunto, pois não me souberam esclarecer. No livro de Mário Guedes da Silva sobre o desporto moçamedense , consta o "Estádio Municipal Telmo Vaz Pereira".

Estávamos a 3 anos da independência de Angola, quando finalmente Moçâmedes passou a dispôr de um novo Estádio Municipal: o "Estádio Municipal Telmo Vaz Pereira", no local conhecido por "furnas de Santo António". Este local, que ficava perto do antigo campo de aviação, foi aproveitado para o efeito por se tratar de um baixio que se adaptou perfeitamente àquela construção. Uma curiosidade: era para essas "furnas" que em tempo de cheias do rio Bero escoavam as águas que transbordavam do leito,
quando as margens do rio ainda não se encontravam reguladas.


 

Descerramento da placa comemorativa pelo Governador do Distrito de Moçâmedes.
 


Na bancada de honra: o Governador do Distrito, Luis Gonzaga Bacharel, Presidente interino da Câmara Municipal de Moçâmedes, o Eng.Alípio Pinheiro da Silva, Lourdino Tendinha, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alexandre.
Sentadas: as respectivas esposas



Este dia, para além da cerimónia tradicional de descerramento da placa comemorativa pelo então Governador do Distrito de Moçâmedes, foi marcado por um desfile de atletas de todas as modalidades desportivas, e ainda por um jogo de futebol disputado entre o Independente de Porto Alexandre e o Varzim Sport Clube. A partir de então, atletas e espectadores passaram a dispor de melhores condições e a cidade em geral passou a beneficiar de instalações mais compatíveis com a época e as necessidades crescentes do um distrito em permanente evolução.





  Desfile de atletas de todas as modalidades no dia da inauguração do Estádio Municipal «Telmo Vaz Pereira», dia 26 de Novembro de 1972



Para trás ficaram os campos de terra batida e sem condições onde se efectuavam os encontros de futebol, primeiro em frente ao edifício dos Caminhos de Ferro, em seguida no largo um pouco mais ao fundo, com bancadas e balneários rudimentares, e inadequadas ao tempo.


Os clubes no distrito de Moçâmedes, sem quaisquer subsídios por parte do Estado e das Câmaras Municipais, foram até ao fim da colonização portuguesa, carentes de recursos materiais, e iam sobrevivendo na dependência das quotizações dos seus sócios, das poucas receitas dos jogos que se iam efectuando, e de outros mecanismos como o bingo (quino), festas, etc... Restava o esforço e empenhamento dos atletas, a «carolice» e dedicação de uns quantos, que nas horas de lazer se dedicavam à causa clubista, bem como o incentivador calor dos aplausos das gentes de Moçâmedes no momento dos jogos.  

Nunca é demais lembrar que em Moçâmedes os pioneiros do futebol partiram para estas lides adquirindo equipamentos com o seu próprio dinheiro, que suportaram todos os sacrifícios e limitações, treinando e jogando em campos de terra batida, em péssimas condições e que nunca se deixaram vencer, fazendo rejubilar de alegria uma cidade inteira. 
Nunca é demais lembrar que desses mesmos campos sairam «vedetas» que foram alimentar o desporto desta modalidade noutras paragens longínquas, levando consigo o nome da cidade, e de Angola. 

Um exemplo, talvez o máximo, foi Fernando Peyroteo, conhecido por «o pé de canhão», que fez parte dos célebres «cinco violinos» do Sporting Clube de Portugal e da Selecção Nacional e que figurou entre os melhores do desporto português de todos os tempos, chegando a ser seleccionador nacional o ano de 1961. Fernando Peyroteo era natural da Humpata-Angola e inciou-se no futebol em 1832, aos 14 anos, no Atlético Clube de Moçâmedes. 

Já em meados do século XX, nomes como de João Luis Maló de Abreu, que começou em Moçâmedes, sua terra natal, a sua actividade futebolística, e que se revelou um grande guarda-redes na Académica de Coimbra, quando para aquela cidade se deslocou para prosseguir os estudos, onde se formou, e onde hoje é conhecido como o Professor Dr. Maló, catedrático da Faculdade de Medicina, principal responsável pela criação do Curso de Medicina Dentária. 
E quanto a equipas de futebol, já próximo da independência de Angola as gentes do distrito rejubilaram com a grande proesa do Independente Clube de Porto Alexandre, que foi não só o único Clube do distrito  a ganhar o Campeonato de Futebol de Angola, como a vencê-lo por três anos sucessivos (1969, 1970 e 1971), tendo ficado na posse da monumental taça «Cuca». Uma vitória estrondosa que ficou a dever-se ao esforço abnegado dos seus jogadores e do seu jogador-treinador, Manuel Gancho e de dirigentes tais como Rui Filipe Barreto de Lara e Manuel Trocado. Dessa equipa tri-campeã de Angola fizeram parte: Gavino, Gancho l (treinador e capitão), Gancho ll, Fernando, Cardeal, Quicas, Estrela ll, Estrela l, Osvaldo Bastos, Armandinho, Mário José, Castro, Agostinho e Neto.

Apesar do Independente ter sido um dos clubes pioneiros no desporto do Distrito, durante muito tempo este clube viu bloqueadas as suas aspirações de ir mais além, na medida em que não possuia instalações, e o campo de que passou a dispor para os treinos de futebol, a partir de 1953, reduzia-se a um areal nas traseiras da antiga Delegação Marítima. E também, porque as deslocações semanais a Moçâmedes para participarem nos campeonatos distritais exigiam um grande espírito de sacrificio aos seus jogadores, dado a morosidade e penosidade dos percursos até à década de 50,  uma vez que tinham que atravessar o deserto em incómodas camionetas que chegavam a demorar 4 ou mais horas para percorrer apenas 100 km. Seria caso de nos interrogarmos: o que seria então o Independente, se este clube pudesse disponibilizar aos seus desportistas as condições existentes hoje nos países avançados?



Ficam estas recordações de uma cidade pequena que conseguiu captar para o DESPORTO, ao longo de décadas, várias gerações de grandes desportistas que revelaram nas diferentes modalidades.

MariaNJardim
Para texto mais completo sobre Futebol em Moçâmedes, ver aqui: 
 http://memoriasdesportivas.blogspot.pt/2007/11/blog-post_5439.html

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